Os Estatutos do Sporting e os seus equipamentos: de 1906 até hoje
Vamos aqui tentar esclarecer a evolução dos Estatutos, apenas no que diz respeito ao tema do Verdebranco - as camisolas do Sporting. Os primeiros Estatutos do Sporting Clube de Portugal nada diziam sobre os equipamentos do Clube. Aliás, nada diziam sequer sobre as cores do Clube! As palavras "verde" ou "branco" pura e simplesmente não aparecem. Isso foi algo introduzido posteriormente, não sabemos exactamente quando.
Os Estatutos de 1920: o equipamento bipartido
O Artº 41 dos Estatutos de 1920 fixa o uniforme para o Futebol: Camisola com frente e costas alternadamente partida em duas metades, uma verde outra branca, colarinho e punhos pretos, bolso preto no lado esquerdo e neste o Leão do Clube e as iniciais SCP; Calção preto; Meias pretas com canhão preto e verde.
Como se pode ver, esta é a definição do clássico equipamento Stromp, que tinha sido adoptado em 1908. Isto porque nos primeiros dois anos, a camisola do Sporting era totalmente branca. Note-se que a designação "Equipamento Stromp" apenas foi adoptada quando os equipamentos bipartidos começaram a ser comercializados, em 1996/97 ou 1997/98.
Note-se ainda que não apenas o verde e branco, como também o preto, são mencionados como cores dos equipamentos do Sporting. Os calções tinham sido brancos até Janeiro de 1915, quando passaram a ser negros por sugestão do jogador Raul Barros.
Os Estatutos de 1929: as camisolas listadas
Os Estatutos de 1929 instituem o equipamento para jogos em campo - eliminando a distinção anterior entre o Futebol e as restantes Modalidades - descrito da seguinte maneira: camisola às riscas horizontais verdes e brancas em riscas de 0,06 m de largura, tendo o emblema do Clube do lado esquerdo, e as iniciais SCP, calção preto e meias iguais à camisola.
Nesta altura já tinha acontecido a estreia das camisolas listadas no futebol, o que vem refletido no texto: a famosa camisola às riscas é tão apreciada que é adoptada como o equipamento principal do Sporting. Note-se que se vai ao detalhe de definir a largura das riscas.
Os Estatutos de 1947: os equipamentos alternativos
Os Estatutos de 1947 mostram uma evolução em que se nota a preocupação com a imagem do Sporting. Efectivamente, são definidas regras para cada tipo de desporto, bem como se vai ao detalhe de definir como é o distintivo ou emblema do Clube e como deve ser usado, e ainda toma atenção aos sócios femininos. Mantém-se ainda a imposição de as listas terem 6 cm de largura.
Um ponto muito importante é que são referidas as camisolas alternativas. Efectivamente, define-se o equipamento Stromp como a alternativa normal, mas dá-se ainda a possibilidade de serem usadas camisolas totalmente verdes. Isto mostra que já seriam usadas, embora de forma esporádica. Só conhecemos a utilização regular de camisolas alternativas a partir dos fins de 1955.
Os Estatutos de 1968: simplificação
Os Estatutos de 1968 são muito simplificados em relação aos de 1947. Define-se a camisola principal simplesmente como sendo listrada horizontalmente de verde e branco, sem preocupação com a largura das riscas.
Mantém-se ainda a definição das camisolas alternativas, como sendo o equipamento Stromp ou então camisolas totalmente verdes. Isto é algo estranho, porque já eram por vezes usadas camisolas alternativas totalmente brancas, o que parece não ter cobertura nos Estatutos.
Os Estatutos de 1981: listas verde brancas
Os Estatutos de 1981 mantêm-se simples. As camisolas listadas são definidas como o equipamento a envergar pelos atletas, mas voltando a especificar uma largura para as listas: em 1929 era imposta uma largura exacta de 6 cm para as riscas, em 1968 isso foi abandonado, agora o texto diz "cerca de seis centímetros".
Por outro lado o equipamento Stromp não é, de todo, definido, mas a verdade é que continuaram a ser esporadicamente usadas camisolas bipartidas nos anos 1970 e nos primeiros anos da década de 1980 antes de aparecerem fabricantes oficiais. Nessa altura, era muito raro usar-se equipamentos alternativos, o que só acontecia quando era realmente necessário. Camisolas Stromp foram também adoptadas com a Le Coq Sportif, bem como com todas as marcas que se lhe seguiram.
Como equipamento a usar como alternativa, mencionam-se camisolas com uma das cores tradicionais, ou seja verde ou branco, ou ambas. Este último ponto abre efectivamente a porta às camisolas Stromp.
Os Estatutos de 1996: a tradição e a inovação
O artigo 10º dos Estatutos de 1996 do Sporting estipulam que "o equipamento a envergar pelos atletas deve adoptar, em princípio, as cores tradicionais do Clube". Nada mais, e apenas em princípio, podendo portanto eventualmente usar-se qualquer outra cor.
Efectivamente, isto abriu a porta aos equipamentos alternativos com cores que não são o verde branco da história do Sporting. Isso aconteceu dois anos depois, na época de 1998/99, com a utilização de azul e amarelo. Desde aí já se utilizaram cores como o cor de laranja, o verde alface, e mesmo o dourado. A maioria destes equipamentos foi muito apreciado pelos adeptos, mostrando a sua abertura à inovação.
Como factor negativo, no século XXI, em 2001/02, aconteceu o emblema das camisolas de futebol perder a sigla SCP, em violação dos Estatutos centenários do Sporting.
Os Estatutos actuais: a camisola do Sporting
O que está definido no texto dos Estatutos sobre os equipamentos e símbolos do Sporting não mudou entre 1996 e a actualidade. O que mudou foi a prática, com o respeito pela tradição e história do Clube a regressar à camisola do Sporting Clube de Portugal.
Efectivamente, para além de voltarem a ter a sigla SCP a encimar o escudo com o Leão Rompante que tão bem define a força e a nobreza do Sporting, as riscas das camisolas listadas verde brancas têm seis centímetros de altura, tal como definido em 1929.
Finalmente, notamos que os Estatutos do Sporting nada dizem relativamente ao tom de verde a usar nos equipamentos e outros símbolos do Clube. Não existe, na realidade, uma definição do que é o "verde Sporting".
Agradecimento
O Verdebranco gostaria de agradecer ao Jornal Sporting, onde foram obtidas muitas destas informações. As fotos são de números antigos do Jornal Sporting, e sem a amabilidade com que nos foi permitido consultá-los e com que fomos recebidos, este trabalho não teria sido possível.